SILVEIRA, B. Lagoinha a cidade encantada.Belo Horizonte: 2005. 160p.
O Livro “Lagoinha a cidade encantada” descreve a história do bairro desde o início de sua formação, caracterizado pela forte diversidade cultural, histórica, econômica e social. A população da Lagoinha teve como primeiros moradores imigrantes (italianos, sírios, árabes, libaneses, judeus e portugueses) da classe operária, o que motivou a formação dos mais diversos estabelecimentos comerciais na região e a diversidade social, através do equilibrio entre o conservador e o extravagante o cotidiano familiar e a boêmia conviviam lado a lado. Seus casarios abrigavam os mais diversos estilos como o eclético, o art-decó e o moderno, sendo classificados como patrimônios de Belo Horizonte. Economicamente a Lagoinha abrigava diferentes classes sociais que conviviam pacificamente em um mesmo espaço urbano.De acordo com o CENSO, antigamente a zona urbana da Lagoinha era ocupada apenas por 32% da população com as intervenções urbanas, que tiveram início em 1912, a adoção de um planejamento urbano pela prefeitura expulsou boa parte da população de baixa renda para as regiões suburbanas, intensificando dessa forma o predomínio da massa favelada na região. A formação da vila operária proletária pela lei 170 de 6/10/1919, também foi um fator determinante para o aumento populacional do bairro, consistiu em um parcelamento com a demarcação de 300 lotes da prefeitura para a classe operária.
Através das ações do poder público as desapropriações e destruições de locais símbolo de referência no bairro alteraram as principais características da Lagoinha, o comércio antes caracterizado pela diversificação, hoje é mais específico tendo como foco: antiguidades, o setor automobilístico, para a venda de peças e conserto e um comércio varejista local. Os cinemas que na década de 40 foram marcantes no bairro, concentrados na Av. Presidente Antônio Carlos, deram lugar às obras públicas. Outros locais referência no bairro que foram extintos são a Galeria Mauá, edifício de caráter misto de lojas e residências que funcionava onde hoje encontra-se a Estação de Metrô da Lagoinha; a Praça Vaz de Mello, elemento marcante na vida boêmia do bairro que deu lugar a estação de metrô; os inúmeros bares que eram locais de encontro dos moradores e a destruição e destombamento dos casarios de importância histórica e cultural como a “Casa da Loba”.
Praça da Lagoinha ou Vaz de Mello nos anos 30
Fonte: Livro Lagoinha a cidade encantada - Brenda Silveira
Vista aérea do Conjunto do IAPI e Bairro Lagoinha - c 1955/1960 (acervo do Museu Histórico Abílio Barreto)
Fonte: Livro Lagoinha a cidade encantada - Brenda Silveira
Ao contrário da maioria das situações em que a questão social é um fator determinante na segregação da população residente, no bairro Lagoinha o motivo principal para essa divisão foi à ação predatória do poder público através da realização de intervenções urbanas de caráter individualista, essas intervenções tiveram por objetivo suprir a demanda por sistemas viários diante do trânsito cada vez mais intenso de automóveis.
A Lagoinha atualmente tem sido marcada pelo descaso do poder público em lidar com as reais necessidades urbanas do bairro, sendo caracterizado por intervenções que influenciam diretamente nos hábitos e no cotidiano da população residente. A descaracterização de sua arquitetura, a perda de sua identidade cultural, a extinção de importantes espaços urbanos e a fragmentação do bairro foram consequências da criação de sistemas viários como o Complexo da Lagoinha que desarticulam todo o meio urbano existente.
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