Profissão: Arquiteto e Urbanista
1. Na sua opinião quais são os desafios enfrentados no século XXI para se projetar espaços públicos de qualidade?
Conciliar as várias funções que os espaços públicos devem abrigar. Isto significa ter que mediar, no espaço público, os conflitos entre pedestres e veículos, redes das concessionárias de serviço público, além dos interesses dos particulares proprietários de terrenos que delimitam a área pública. Nesse sentido, o projeto do espaço público acaba por constituir-se não um mero exercício de desenho, mas a ponta do modelo de cidade que se busca atingir.
2. Belo Horizonte apresenta extensos espaços públicos abandonados e desvalorizados, pouco integrados ao tecido urbano, você acha que esse problema está ligado a ineficiência do planejamento urbano da cidade? Senão quais os principais motivos que levam a essa configuração de espaços públicos.
Os problemas colocados são diferentes. A degradação dos espaços públicos pode decorrer de motivos variados, desde a falta de manutenção até uma concepção pouco adequada dos mesmos. Esta segunda opção, assim como os espaços pouco integrados com a cidade são, no meu entendimento, resultado de um planejamento urbano que, ainda que não possa ser taxado de “ineficiente” (lembremos: há uma série de outros problemas com os quais o planejamento urbano tem que lidar), mostrou-se incompetente para tratar as questões relativas a espaços públicos.
3. Quais os principais aspectos que diferem as propostas urbanísticas do Brasil em relação ao exterior?
É difícil responder a essa pergunta de maneira tão ampla... Há propostas boas e ruins aqui e no exterior... De modo geral, entendo que falta um maior apreço das autoridades brasileiras com a questão dos espaços públicos. Elas têm pouco espaço na agenda dos governantes. A precariedade dos materiais utilizados nas intervenções é, por exemplo, um reflexo disso.
4. As cidades asiáticas são exemplos de metrópoles que convivem com uma elevada taxa de crescimento urbano e populacional. A escassez e o alto custo dos espaços não edificados levam a necessidade de aproveitamento de todos os espaços existentes, inclusive os considerados como áreas residuais. Como você avalia o planejamento urbano adotado por essas cidades?
Não conheço a fundo as situações de muitas cidades asiáticas. E, mais do que isso, a Ásia é um continente enorme e heterogêneo – não é possível fazer generalizações. Conheci recentemente o exemplo de algumas cidades japonesas e entendo que, atualmente, o planejamento das cidades vêm atuando de forma corretiva. A partir de uma malha densamente ocupada, com grande predominância de áreas privadas sobre as públicas, vêm sendo abertos, gradativamente, novas áreas públicas, seja em função de uma nova legislação, que exige áreas abertas em empreendimentos de maior porte, seja em função de grandes intervenções a cargo do poder público.
5. Em relação aos complexos viários existentes no Brasil você acha que eles se integram ao espaço urbano? Como profissional arquiteto e urbanista quais os principais problemas ocasionados no meio urbano com a implantação de complexos viários?
De modo geral, não vejo qualquer integração. Particularmente, sou contra a ampliação de complexos viários em áreas consolidadas das cidades. Esse é o pior solução para a mobilidade urbana – tem eficiência por um prazo curto e causa enormes impactos, muitas vezes irreversíveis, na estrutura urbana.
De acordo com a entrevista realizada em relação à qualidade apresentada pelos espaços públicos contemporâneos pode-se levantar as seguintes análises:
ResponderExcluir- Um espaço público de qualidade deve possibilitar uma interação e equilíbrio entre os locais de encontro, rede de serviços e circulação.
- Deve apresentar diretrizes específicas que estimulem seu potencial de desenvolvimento que muitas vezes torna-se limitado devido à especulação e falta de compatibilidade de interesses entre o poder público e os proprietários de terreno.
- Desenvolver planejamentos estratégicos que estimulem a cultura e o lazer nos espaços públicos, evitando assim que essas áreas se tornem espaços ociosos na malha urbana.
- Desenvolver parcerias público-privadas de forma que os investimentos nos espaços públicos não fiquem apenas a encargo do poder público, possibilitando dessa forma obtenção de créditos pela prefeitura para a realização de intervenções necessárias.
- Priorizar a sobreposição de usos buscando uma maior flexibilização urbana e um melhor aproveitamento dos espaços livres existentes.
- Possibilitar uma integração dos sistema viários ao meio urbano que contemplem ao serem implantados a sustentabilidade, mobilidade urbana e o desenvolvimento social, cultural e econômico do entorno.