quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vandalismo custa R$ 2 milhões aos cofres da Prefeitura de BH


Gasto anual com conserto e reposição de peças do patrimônio público é maior na Administração Regional Centro-Sul

Renata Galdino - Repórter - 29/06/2010 - 06:30

CRISTIANO COUTO
R$ 2 milhões. Este é o valor médio que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), de acordo com a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas, gasta a cada ano para repor o que foi danificado por vândalos ao patrimônio público na capital. Somente na Regional Centro-Sul, a maior da cidade, são “perdidos” R$ 90.450 por mês. Por ano, quase R$ 1,1 milhão – mais de 50% dos gastos com os reparos em toda Belo Horizonte.

“Perdido” porque este dinheiro poderia ser investido, por exemplo, na ampliação e construção de unidades de saúde e escolas. E mais: os gastos podem ser muito maiores, pois atingem ainda outros órgãos além da administração municipal. No final, sempre pesa no bolso e no serviço prestado à população.

Exemplo clássico disso foi registrado no sábado (26) contra a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Com muita ousadia, ladrões roubaram quase 50 metros de cabo de cobre na subestação B, no Barro Preto, Região Centro-Sul da capital, e causaram um curto-circuito. Os trens ficaram parados por 2h30, por falta de alimentação ao sistema de sinalização, e os usuários sem o meio de transporte. O prejuízo total ainda não foi calculado.

O roubo de cabos, que obriga os trens a circularem em velocidade muito abaixo da normal (de 80 km/h para 25km/h), e os danos a elevadores e escadas rolantes estão entre as ações mais recorrentes nas estações do metrô. “Estamos trocando os cabos de cobre para o tipo misto, com aço e cobre, que não têm valor comercial para os criminosos. O investimento inicial foi mais caro, mas a longo prazo não teremos os gastos com a reposição”, revela o gerente regional de Manutenção do Metrô-BH, Fernando Magalhães.

Quem também é alvo constante do roubo de fiação é a Cemig. De janeiro a junho deste ano, a empresa gastou R$ 1,9 milhão com a reposição de cabos, transformadores e equipamentos subterrâneos instalados em vias públicas. Até o final de 2010, a Cemig estima prejuízos de mais R$ 1,8 milhão com a reposição de material, totalizando cerca de R$ 3,7 milhões.

Não menos prejudicado também sai o motorista que precisa de placas de sinalização e até mesmo do semáforo. “A batida que amassa ou danifica um semáforo não deixa de ser vandalismo porque o motorista bate e vai embora”, enfatiza o gerente de Semáforos da BHTrans, Gabriel Gazolla. Nos primeiros cinco meses deste ano, já foram gastos cerca de R$ 98 mil com a reparação destes equipamentos, dos quais R$ 9 mil a empresa de trânsito tenta reaver na Justiça.

Já com o roubo e a depredação das placas de sinalização, os gastos de 2006 até maio deste ano foram em torno de R$ 158.572. Ontem, o HOJE EM DIA flagrou uma placa de identificação quase ao chão na esquina das ruas Gonçalves Dias e Santa Catarina, no Bairro Santo Agostinho. Para segurá-la, arame amarrado no poste. Em frente ao número 334 da Rua Guarani, no Centro da capital, uma placa de informação ao usuário do transporte coletivo estava pichada. Ao lado, uma lixeira totalmente depredada.

“Se preciso jogar o copinho que bebi água fora, tenho que caminhar até uma outra lixeira para não jogar no chão. Deve estar assim há mais de um ano, quando eu vim trabalhar aqui”, diz o comerciante João Luiz Lopes, 56 anos. Se o comerciante tem consciência de não deixar a cidade suja, o mesmo não se pode dizer de outras pessoas que passam por ali. A boca de lobo em frente está repleta de sujeira, como copos e saquinhos de salgadinhos.

Já na Avenida Bernardo Monteiro esquina com Rua Padre Rolim, no Bairro Santa Efigênia, o vandalismo registrado ontem pelo HOJE EM DIA é outro. Dos dois orelhões ali colocados para a população, apenas um funciona. O outro está quebrado e o fone, colado com fita isolante. Em nota, a OI informou que cerca de 8% dos 101 mil telefones públicos instalados em Minas Gerais foram danificados nos primeiros cinco meses de 2010. Mensalmente, cerca de 300 campânulas (redomas que protegem os telefones) são danificadas. Nem as placas de identificação de monumentos escapam. Na Avenida Augusto de Lima, o busto de Afonso Arinos está sem a plaqueta de identificação.


Destruir por simplesmente destruir ou roubar para conseguir uma renda extra: não importa. De acordo com o professor de Sociologia da PUC-Minas Juracy Amaral, o comportamento do vândalo demonstra uma negação da cidadania. “A pessoa não tem noção de que está prejudicando o bem que é dela. A noção de que o bem público não é do povo é uma tradição brasileira. Eles manifestam lapidando, estragando”, explica o especialista. O professor diz ainda que a maioria esmagadora dos vândalos é de classe menos favorecida.

“São pessoas excluídas, a vida pública não faz sentido para elas. Isso é perceptível ao analisar as praças da Estação e da Liberdade. A primeira só parou de ser depredada depois da revitalização”, comenta Juracy.

Um comentário:

  1. O vandalismo contra os bens públicos pode ser entendido como formas de manifestações de insatisfação da sociedade marginalizada. Diante desse problema tão característico nos espaços urbanos, o poder público busca através da reposição do mobiliário, da revitalização e dos sistemas de vigilância a manutenção da ordem pública, entretanto a adoção dessas medidas dificilmente serão capazes de solucionar esse problema, temos de partir do princípio de que é necessário a criação e aplicação de instrumentos de regulação urbanística para promover a inclusão social com a melhor distribuição das funções urbanas.

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