quinta-feira, 31 de março de 2011

A nova Cracolândia

Consumo de drogas na Ponte Estaiada; Algumas características da construção, como a proximidade com a Favela do Jardim Edith, na Zona Sul, onde a droga é comprada, e o fato de estar em frente a um terreno baldio, teriam atraído os usuários de entorpecentes
José Dacauaziliquá, jose.dacau@grupoestado.com.br
Uma nova ‘Cracolândia’ começa a surgir em São Paulo. Os vãos da Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira, junto à Avenida Jornalista Roberto Marinho, no Brooklin, Zona Sul, viraram abrigo para usuários de crack. A reportagem do Jornal da Tarde flagrou, de quinta-feira até ontem, o vaivém dos freqüentadores que saem dos vãos da ponte, atravessam a avenida, compram a droga na Favela do Jardim Edith e voltam para consumi-la no local.

O grupo flagrado era formado por cerca de 20 pessoas, rapazes, na maioria. Mas o setor de assistência social da Subprefeitura de Pinheiros, responsável pela região, chegou a encontrar cerca de 30 pessoas no local. Para coibir furtos e assaltos, a Polícia Militar mantém viaturas fixas nos horários de pico (pela manhã, entre 7h e 10h e, à tarde, das 16h às 19h). No resto do dia, há patrulhamento em carro e moto.

Segundo a PM, o local tem “características peculiares” concentradas num pequeno espaço, o que teria favorecido o surgimento da nova Cracolândia - referência ao nome dado informalmente a uma região do Bairro de Santa Ifigênia, no Centro, caracterizada pela venda e consumo de crack. O novo ponto fica próximo à Praça José Anthero, localizada sob a ponte, no encontro das Avenidas Chucri Zaidan, Engenheiro Luís Carlos Berrini e Jornalista Roberto Marinho. De um lado está a Favela do Jardim Edith; do outro, um terreno baldio.

Os vãos da ponte servem de abrigo para dormir e de refúgio para o consumo de drogas. A favela é o local de compra e os semáforos são pontos para arrecadar dinheiro.

A reportagem tentou conversar com os usuários, que aparentavam estar sob o efeito do entorpecente e mal compreendiam as perguntas. Apenas pediam cigarros. Diante da negativa, viravam as costas.

“Já fui preso por 155 (referência ao artigo do Código Penal que se refere a furto), e agora ninguém me dá emprego. O jeito que encontrei foi ficar pela rua”, disse um rapaz, que não quis se identificar.

Ele falou que o grupo consome principalmente crack, mas também usa maconha. “Farinha (cocaína) é droga cara. É coisa de playboy, coisa que dá para ver que a gente não é”, disse o usuário - que, ao ser questionado sobre como conseguia dinheiro para comprar drogas, respondeu: “Faço bicos”.

Uma jovem de 25 anos disse ter chegado ao local há duas semanas com a irmã e três amigos. Na tarde de ontem, outra mulher, aparentemente grávida, e uma criança integravam o grupo.

Semáforos

Os usuários ficam nos semáforos quando a polícia não está por perto. Homens da Guarda Civil Metropolitana (GCM) que vigiam a ponte 24 horas, por causa do furto de fios de cobre, contaram que os usuários de drogas descobriram o “point” logo após a inauguração da obra, em 10 de maio e, aos poucos, se apropriaram do local. “Eles se drogam, intimidam os pedestres e vão para o farol, com a mão por baixo da blusa, simulando estar armados”, disse um GCM, que pediu para não ser identificado.

Motoristas e pedestres reclamam. “Por causa do percurso de ida e volta de casa para o trabalho, sou obrigado a passar por aqui. Colaboro porque tenho receio de que quebrem o vidro ou chutem a porta do carro”, disse o administrador de empresas Carlos Castro Maciel.

Por causa da concentração de prédios comerciais, a região tem grande circulação de pedestres, que são obrigados a passar pelo local para chegar até o ponto de ônibus. “Ando sempre com o passo apertado e evito usar celular”, disse a recepcionista Neide Oliveira.


DRIVE-THRU

Em abril de 2006, o ‘JT’ ublicou uma série de reportagens denunciando um
esquema de venda de drogas na Avenida Jornalista Roberto Marinho, no Campo Belo, Zona Sul - num trecho que fica a cerca de três quilômetros da Ponte Estaiada

Motoristas paravam o carro, faziam o pedido, pagavam, recebiam a ‘encomenda’ e
partiam. O comprador não precisava descer do carro

Após a denúncia, três operações policiais foram realizadas em toda a extensão da Avenida Jornalista Roberto Marinho para coibir a prática
FICHA TÉCNICA

PONTE ESTAIADA OCTÁVIO FRIAS DE OLIVEIRA

Localização:
sobre o Rio Pinheiros. Liga a Avenida Jornalista Roberto Marinho à
Marginal e tem capacidade para receber 8 mil veículos/hora

Valor: Orçada em R$ 142 milhões, custou R$ 260 milhões

Tem 138 metros de altura e é suspensa por 144 estais (feixes de cabo de aço); tem 142 projetores, capazes de colorir a ponte de verde, azul ou vermelho. O cimento utilizado na construção é suficiente para construir um estádio como o Morumbi
http://www.jt.com.br/editorias/2008/08/17/ger-1.94.4.20080817.1.1.xml

Um comentário:

  1. A ocupação dos vãos da Ponte Estaiada em São Paulo por usuários de drogas é um dos problemas ocasionados com a implantação de viadutos. A estrutura torna-se um local atrativo para a formação de cracolândias por serem em sua maioria mal-iluminados e pouco "vigiados" além de apresentarem proteção contra interpéries devido a sua forma.

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